O mistério do busto de Cásper Líbero

Um dos primeiros objetos que os calouros percebem ao adentrar na Faculdade Cásper Líbero é um busto metálico em frente à sala da diretoria no quinto andar. A intuição indica que a obra representa o patrono de nossa faculdade, mas não há sequer uma placa nela que faça menção a seu nome. Os anos passam e muitos alunos se formam sem saber a origem de tal adorno de nosso prédio.

Heloísa Barrense, aluna do 3º ano de Jornalismo, conta que só sabe que o busto representa o Cásper Líbero porque alguém lhe disse que era ele.

“Eu só sei que esse é o Cásper Líbero porque me disseram que é ele”

Já Mariana Canhisares, que irá se formar em Jornalismo este ano, brinca que o busto poderia facilmente se passar por um jornalista contemporâneo: bastava colocar óculos e ficaria igual ao Britto Jr.

“Eu achei muito parecido com o Britto Jr”

De qualquer forma, a relação com o busto de Cásper Líbero sempre foi amigável. Outro formando de Jornalismo, José Adorno, não hesitou em aproveitar o cenário para uma gravação da matéria de Telejornalismo. Inclusive, utilizou a imagem para brincar com um aplicativo que identifica a rostos e as suas respectivas idades:

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Bom, Cásper Líbero viveu somente até os 54 anos e José tem apenas 20. O aplicativo errou por alguns anos, mas demonstrou como o busto de Cásper se faz presente inclusive nas redes sociais, mantendo-se atemporal.   

E então começaram a surgir várias dúvidas: desde quando o busto está na faculdade? Quando e com qual material foi forjado? Quem e por que fez a encomenda da peça? Quem forjou a peça? Por que não há uma placa com informações no busto?

Os arquivos da biblioteca não foram suficientes para revelar suas origens e os funcionários espantavam-se ao perceberem que desde “sempre” o busto estivera ali e nunca haviam questionado sua história. Precisávamos de mais pistas.

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O professor de Comunicação Comparada, Luis Mauro Sá Martino, ajudou da melhor forma que conseguiu e ainda fez uma alusão ao mundo de Harry Potter. Como bons potterheads, ficamos encantados com a sua astúcia digna de uma cerveja amanteigada.

Conversamos então com Antônio, responsável pelo SAV e curioso pela história da faculdade, que nos levou para falar com Alípio, nosso secretário-geral e um dos funcionários mais antigos.

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Antônio e o busto de Cásper Líbero

Ele recorda que trouxeram o busto do antigo prédio da Gazeta para o prédio da Av. Paulista e que a princípio foi alocado no térreo. Depois da reforma, a faculdade foi para o quinto andar e colocaram a peça em frente à nova sala da diretoria.

Enquanto criávamos o time lapse acima para mostrar a convivência dos alunos com o busto, percebemos um detalhe na obra que nos havia escapado antes: a marcação G. Emendabili na extremidade da peça.

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Sem perder tempo, lançamos o “G. Emendabili” no Google e pudemos enfim descobrir mais uma parte da história do busto misterioso. Trata-se de um escultor italiano que desembarcou no Brasil em 1923 e construiu uma carreira célebre por aqui. Galileo Emendabili (1898 – 1974) foi autor de esculturas no Cemitério da Consolação e na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Suas obras mais famosas são o Monumento a Ramos de Azevedo na Cidade Universitária e o Obelisco Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932 no Parque Ibirapuera. Mas nada disso atestava a sua relação direta com a Fundação.

Até que encontramos o documento abaixo, revelando que podemos enquadrar o busto de Cásper Líbero neste portfólio:

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Ainda estarrecidos com a descoberta do autor da peça, nos deparamos com Carlos Costa, diretor de nossa faculdade, que nos soltou outra bomba: existem dois bustos de Cásper no prédio.

O outro busto fica na Sala Cásper Líbero, no 11º andar do prédio. O acesso requer autorização, uma vez que o local abriga outros objetos históricos (e misteriosos) da Fundação.

Até o encerramento desta matéria, não surgiram outras respostas para os questionamentos técnicos em torno do busto de Cásper. De qualquer forma, ele permanece ali, em frente à sala da diretoria, recepcionando futuros comunicadores e funcionários do legado de nosso patrono.

Um agradecimento especial ao fantasma do Cásper Líbero que acordou de bom humor naquela quinta-feira de chuva e inspirou nossas fontes a desvendarem parte do mistério de seu ilustríssimo busto.

Por Érica Azzellini e Victor Hugo de Souza

Tirando o peso das costas: a história do ouro do futebol de campo da Cásper no JUCA

Por Leonardo Moric e Lucas Sarti

A honra de defender sua faculdade em uma das maiores competições universitárias do país é uma emoção que os alunos da Cásper Líbero compartilham há muitos anos. Os Jogos Universitários de Comunicação e Artes, conhecido popularmente como JUCA, é o evento mais aguardado do ano pela maioria dos casperianos.

Na 23ª edição dos Jogos, que teve duração de 26 de junho de 2016 até 29 de junho, os alunos representaram muito bem a primeira faculdade de jornalismo do país. Com medalhas históricas como no xadrez e no rugby feminino, a Cásper mostrou que é uma faculdade que abrange e apóia diversas modalidades.

Porém, uma das conquistas mais comemoradas pelo mar vermelho que lotou as ruas, as quadras, e as baladas de Sorocaba, foi a vitória do time de futebol de campo masculino da Cásper. Após bater na trave diversas vezes, os guerreiros casperianos levaram para casa mais um título da modalidade, o que não acontecia desde 2009, e coroaram uma geração vencedora de grandes atletas.

A caminha foi suada, emocionante e de superação, já que a rotina de treinamentos costuma ser difícil para os atletas universitários, como conta André Carvalho, volante da equipe casperiana e estudante do terceiro ano de Rádio e TV.

“Treinamos toda quarta-feira depois da aula. Costumamos começar entre 23h e 23h30 e acabar 1h e pouco. Com isso, chegamos em casa umas 2h da manhã, já que o local de treinamento é longe para muitos”, declarou.

Além do esforço para participar dos treinamentos, os atletas universitários acabam abrindo mão de sua vida pessoal para ter comprometimento com a equipe, como revela Thiago Tassi, lateral-direito e estudante do terceiro ano de jornalismo.

“Tanto churrasco de família e outras coisas que temos no domingo, e acabamos indo nos jogos, mesmo sabendo que poderemos não jogar, mesmo sabendo que podemos não ser importante naquele dia, vamos. Você se sente parte daquilo, acaba participando e esse é o sacrifício. Treinar de madrugada e trabalhar cansado no dia seguinte. Deixar de ir a um monte de festas de família, ser cobrados pelos pais por só pensar no time. Seus pais começam a acostumar e veem que você não vai largar aquilo tão cedo”, disse.

O sacrifício, no entanto, é compensado pelo clima de amizade presente. “Atrapalha o trabalho, atrapalha a faculdade, a gente perde tempo de fazer atividades, mas tudo isso vale a pena. Vale a pena porque a gente tem uma família ali, somos muito unidos”, exaltou Thiago Dutra, lateral-esquerdo do time e estudante do terceiro ano de Jornalismo.

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A estreia da equipe foi contra a ECA (Escola de Comunicação e Arte da USP), repetindo a estreia de 2015, quando os dois times se enfrentaram. Na ocasião, a Cásper não conseguiu furar a retranca do adversário, e venceu o jogo nas penalidades máximas. Desta vez, no entanto, o ataque casperiano não deixou barato.

A proposta da ECA era clara: recuar e apostar em um contra-ataque para surpreender a Cásper. Porém, os guerreiros da Avenida Paulista 900 ditaram o ritmo de jogo, e com menos de 10 minutos abriram o placar. Antes do final da primeira etapa, o 2 a 0 já aparecia no placar do estádio em Sorocaba.

O lateral esquerdo Thiago Dutra contou uma história curiosa. “Foi engraçado que o professor Ladá havia pedido para a gente fazer dois gols no primeiro tempo, para ter uma tranqüilidade maior”, relembrou o jogador.

Já nos 45 minutos finais, a tranqüilidade pedida pelo comandante voltou a aparecer em campo. Logo nos minutos iniciais, os guerreiros ampliaram o placar: 3 a 0. Com três gols do atacante Pedro e dois do atacante Cenoura, o time da Cásper avançou para as semifinais com uma vitória por 5 a 1.

O adversário no confronto seguinte foi a Anhembi Morumbi, time que havia batido a Cásper na final de 2014, quando venceu por 4 a 2, e que era considerado um dos francos favoritos a repetir a medalha de ouro de 2015. O temido confronto, no entanto, foi dominado pelos jogadores da Cásper, que, com um envolvente toque de bola, fizeram 1 a 0 em uma grande apresentação. Nos minutos finais, o time do Grifo até pressionou os casperianos, mas nada que preocupasse o exército vermelho, que comemorou uma grande vitória por 2 a 1, e a vaga carimbada para mais uma final.

“Foi um jogo perfeito, como o técnico Ladá definiu. Atacamos quando precisávamos atacar, defendemos quando era a hora de defender”, exaltou Thiago Dutra, que comemorou a vitória após tropeçar por diversas vezes contra o adversário. “Ganhamos da Anhembi que era nosso maior algoz, já que tinham ganhado da gente no campo em 2013 e 2014, e no futsal em 2014 e 2015. Ganhamos deles com muita facilidade na semifinal, foi muito boa a sensação”, completou.

Na grande decisão da competição, os guerreiros ficaram frente a frente com a PUC, que entrou no campeonato com um time menos badalado, mas chegou à final após eliminar o Mackenzie.

Apesar de enfrentar um adversário sem grande favoritismo, a equipe casperiana carregava o peso de gerações sem títulos no futebol de campo. “Além de ter perdido em 2014 e 2015, o que aumenta mais é que não ganhávamos desde 2009, sete anos de jejum. Supera mais de uma geração sem ganhar nada. Muitos se formaram sem ter a medalha de ouro e isso era sempre falado por ex-alunos em todas as conversas pré-Juca: ‘me formei sem ser campeão e estou aqui falando com vocês, com meus amigos, minha família’. Isso é algo bem pesado”, afirmou Thiago Tassi.

André Carvalho também comentou a pressão. “O principal ponto que a gente sofria era o psicológico. De chegar na hora do jogo e acabar não tendo o preparo emocional que acaba sendo muitas vezes mais importante que a parte técnica. Acho que evoluímos neste quesito”, disse.

Com um time totalmente defensivo, os jogadores da Cásper tiveram dificuldade para penetrar a boa defesa armada pela PUC.

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A fumaça vermelha e branca, os gritos de incentivo, e a raça dos jogadores foram fundamentais para levar a partida para a disputa de pênaltis. “Quando o jogo foi para os pênaltis nós sabíamos que tínhamos um goleiraço, que é o Seringa. No ano passado ele já havia defendido três pênaltis, e não deu outra”, relembra Thiago Tassi.

Desta vez, no entanto, a pressão não atrapalhou. Com o apoio da torcida, e uma exibição de gala do goleiro Seringa, o time da Cásper converteu três cobranças, enquanto a PUC não acertou nenhuma, e voltou a conquistar uma medalha de ouro no futebol de campo após sete anos de muita luta, garra, suor e dedicação.

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“A gente se mata de treinar, longe pra caramba, no frio, na chuva, não importa a condição. E todo esse esforço valeu a pena. Essa é a sensação que fica, de que todo o esforço que fizemos nos últimos três anos não foi em vão. É uma sensação maravilhosa, que vou sentir poucas vezes na minha vida, independentemente do ramo em que eu esteja. Não só no futebol, mas profissional, familiar, pessoal, qualquer lugar da minha vida eu não vou sentir uma sensação tão boa de alívio de ser campeão depois de sofrer três anos batendo na trave”, comemorou Thiago Dutra.

“A sensação de ter ganhado este ano, tendo em vista que 2014 e 2015 fomos vice-campeões, foi um alívio. Parece que tiramos um peso das costas. Finalmente soltamos o grito que estava entalado na garganta”, completou André Carvalho.

Mesmo não se consagrando campeão geral do JUCA 2016, todos os casperianos sempre guardarão na memória, com muito orgulho, um dos momentos mais marcantes da história da faculdade, que foi a conquista da medalha de ouro pelos guerreiros do futebol de campo da Cásper Líbero.

 

Literalmente, os donos da bola

O que é ser DM?

5 horas da manhã. Incomodada pelo alarme que ecoa pelo quarto inteiro, Janaína se mexe desconfortavelmente no colchão inflável que seu corpo tenta repousar. Sentindo um leve frio, ela abre seus olhos com grande esforço, mas não tarda a despertar por completo, tamanha a ansiedade. Sorocaba. JUCA. Handebol feminino.

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Jana, poucas horas de sono e muitas de trabalho pelo time de handebol feminino.

Para Janaína, chegou a hora. Apesar de tão cedo, a Diretora de Modalidade – carinhosamente chamada de DM – tem muito a fazer. Jana é responsável por todo um time. São mais de 20 atletas que requerem café da manhã, uniforme, transporte e cuidados médicos. Ser DM não é só ser uma líder – é também deixar suas companheiras de time o mais confortáveis possível. Suas amigas acordam às 6h30.

Tudo isso, voluntariamente. Tudo isso, pelo seu time.

Ao todo, a Cásper possui 15 times e 14 DMs para os Jogos Universitários de Comunicação e Arte. São eles: Maximiliana de Paiva, do basquete feminino; Hares Datti, do basquete masculino; Lívia Martins, do futsal feminino; Luccas Samarco, do futsal masculino; Lucas Martins, do futebol de campo; Janaína Kuwae, do handebol feminino; Francisco Quintanilha, do handebol masculino; Leonardo Cappellari da natação; Juliana Arbulu rúgbi feminino; Victor Hyago, do rúgbi masculino; Júlia Noneto, do tênis de campo; Tácia Herstig, do tênis de mesa; Mariana Perrella, do vôlei feminino; Lucas Hanashiro, do vôlei masculino; Vinícius Elia do xadrez. Não existe uma votação, ou receita para se definir um Diretor de Modalidade. Todos são eleitos por pura e espontânea vontade. É uma posição passada de geração para geração, uma tradição que envolve todos os atletas, além da Atlética AAA Jesse Owens.

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Pirituba, a mão do basquete masculino da Cásper.

Cada um deles com uma enorme responsabilidade. Muito maior que transmitir recados entre time, técnico e atlética. Muito maior que ser a pessoa responsável pelas bolas e pelos peões. E principalmente, muito mais que as entradas francas para as festas casperianas organizadas pela atlética.

É ir em reunião de regulamente da NDU em um sábado de chuva às 7 da manhã. É manter 20 pessoas motivadas a irem treinar de madrugada e ainda garantir que todo mundo tenha como voltar para casa. É ser responsável pelo pagamento de quadra e de achar uma que atenda as necessidades do time, já que a da Cásper é carta fora do baralho. São longas reuniões com a Atlética para tomar decisões em conjunto. É lutar por melhores condições de treino e jogo, pelo esporte universitário, pela sua faculdade e principalmente, pelo seu time.

É trabalho, meu filho!

“Ser DM de algum esporte na Cásper é como ser mãe: você cuida de tudo e de todos 24h por dia. É cansativo, mas quando as coisas dão certo você sente aquele orgulho dos atletas que você joga e de si próprio. O trabalho é basicamente o ponto de ligação entre o time, a atlética da faculdade e o que está de fora, sejam amistosos, campeonatos e viagens. O DM é o cara que cuida dos uniformes, do dinheiro, das águas, das carteirinhas, dos atletas; é quem reporta e cobra coisas da atlética como inscrições de campeonatos, material novo tipo bolas e o técnico também. O DM, acima de tudo, não pode ser um cara desorganizado, impaciente e lento. Tem que saber tomar decisões pensando sempre num bem coletivo, nada de escolhas egoístas porque ele tá com preguiça. Perrengue por perrengue só o nome DM já simboliza um. Além de muito dinheiro que atletas e ex-atletas me devem até hoje, um perrengue enorme é carregar um saco de 8 bolas de basquete da estação de Pirituba até a Paulista. Já tive que dar caronas na madrugada que iniciaram no centro, passaram pela zona leste, foram até Alphaville pra terminar, finalmente, em Pirituba. Mas todas as olheiras, cansaços no trabalho no dia seguinte, falta de dinheiro e raiva da sua família que não entendem seu amor pelo esporte sempre valeram muito a pena!”, fala Pirituba sobre seus 3 anos a frente do time de basquete masculino da Cásper como DM.

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Sobre a Camila é difícil dizer o que é maior, o amor dela pelo time ou a dívida de aluguel de quadra.

Para Camila Iyeyasu o grande trauma ficou no bolso: “Durante o período em que era DM era ter que cobrir os gastos da quadra, já que muitas atletas esqueciam de me pagar”. Já para Maxi, a atual DM do basquete feminino, seu maior desafio foi a fabricação de um uniforme reserva para as meninas. Uma tarefa ingênua e teoricamente tranquila se tornou um pesadelo de semanas, muitos e-mails e telefonas perdidos com a empresa Ícone Sports. Depois de três longos meses e muita briga, o fardamento correto finalmente chegou e o time ficou feliz, mas todo o trabalho realizado por de trás dos bastidores permaneceu anônimo – até virar uma reclamão oficial contra a empresa!

Domingo de feriado. O relógio mas 15h30. Sorocaba. O ginásio inteiro pulsa, vibra e torce junto. Chutão pro alto, braços pro alto, bandeiras pro alto. Grito, apito e choro. É campeão! É ouro! É campeão. Boooa time, c***! O Juca não deu, faltou pouco. Quem sabe ano que vem. Mas o futsal ganhou. No dia anterior tinha sido o futebol de campo e o rúgbi feminino. O xadrez fez história. Os times lutaram, a torcida gritou. O trabalho valeu a pena. Cada madrugada, cada aniversário perdido, cada litro de gasolina, cada quilometro viajado. O trabalho não acabou. NDU está aí, batendo na porta. Segunda semestre guarda novos desafios. Ano que vem? Já é Juca!

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Maxi: três meses de briga por um uniforme não são pra qualquer um.

 

Desligue o celular! Projeto incentiva a leitura em trens e metrôs de São Paulo

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Foto: Divulgação/Leitura no Vagão

Com mais de 11 mil apoiadores nas redes sociais, o projeto Leitura no Vagão propõe a São Paulo um desafio: abandonar a tela do celular e aproveitar uma boa leitura. Fundado em 2014 pelo desenvolvedor de software Fernando Tremonti, a iniciativa busca fomentar a prática da leitura nos trens e metros da cidade, deixando à disposição da população livros totalmente gratuitos. Como uma forma de aproveitar o período considerado perdido no descolamento de um ponto a outro da metrópole, o projeto projeta ainda um sistema colaborativo, no qual aqueles usuários que pegaram um livro de início, o retornem ao vagão após a leitura para que outros possam usufruí-lo.

 Pensava em como eu poderia transformar aquele ambiente.  A resposta foi fácil de achar, ela estava na minha mão direita. Era o livro.

“Muitas pessoas falam que não tem tempo para ler, mas ficam conectadas. Ler nos vagões foi uma alternativa que eu achei e que me fez tão bem, então por que os outros não poderiam começar também?”, contou Fernando, explicando o que o motivou a criar a iniciativa: “Eu sentia a necessidade de algo assim. Eu tenho uma filosofia de vida que é transformar o lugar em que a gente atua em um lugar melhor. Como eu uso o transporte público, eu pensava em como poderia transformar aquele ambiente. A resposta foi fácil de achar, ela estava na minha mão direita. Era o livro”. Com a ideia em mente, o jovem então passou a deixar nos bancos dos vagões os livros que tinha em casa, acompanhados de um folder que ele mesmo mandou fazer.

Contando com iniciativa totalmente colaborativa, o Leitura no Vagão sobrevive de doações de editoras e apoiadores do projeto, sem contar autores independentes que encontram na ali uma forma de divulgar suas obras sem nenhum custo. “Como a gente faz uma ação colocando um livro em cada assento, então a gente precisa da ajuda deles [metro]. Não pode ter patrocínio nos materiais, se eu tiver uma publicação e colocar ‘apoio da editora X’, eles não deixam. Todas as ações devem ser feitas com todas as editoras, eu não posso ter ‘apoio cultural editora tal’”, explicou Tremonti.

Embora tenha alcançado outras localidades, como Rio de Janeiro, Minhas Gerais, Amapá, Distrito Federal e até mesmo o Chile e Nova York, o projeto depende de um financiamento coletivo para continuar existindo. “Eu não tenho um apoio, as editoras não estão mais doando livros. O financiamento é para arrecadar dinheiro para fazer os materiais, realizar as ações”, contou o fundador.

Para colaborar, basta acessar o link. As doações são a partir de R$20 e ajudam a propagar e expandir o projeto que, em apenas um ano de realização, já contou com a distribuição de mais de 12 mil livros.

Por Bruna Baddini e Marina Quaresma

Novos jornalismos e antigas tecnologias

O que mudou no jornalismo de 1990 pra cá? Saiba mais sobre a influência das novas tecnologias dentro da profissão

A máquina de escrever chegou ao Rio de Janeiro em 1948, importada dos Estados Unidos pela empresa Remington, depois, a sueca Facit chegou à Minas Gerais em 1955, e a italiana Olivetti passou a produzir em São Paulo em 1959. O primeiro computador chegou ao Brasil graças ao governo de São Paulo que, no ano de 1957, comprou um Univac- 120 para monitorar o consumo de água da capital do estado. No ano de 1971 aconteceu a primeira radiografia do mercado de informática no Brasil, onde o Ministério do Planejamento contou 600 máquinas. E foi em 1975 que o microcomputador, que hoje conhecemos como desktop, foi criado.

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O declínio das máquinas de escrever começou no início da década de 1990, quando a procura por computadores e impressoras cresceu e tomou conta do mercado. A essa altura do campeonato nosso primeiro entrevistado estava formado e ingressava no mercado de trabalho, enquanto nosso segundo entrevistado estava nascendo. A diferença de 24 anos entre os dois personagens da reportagem abre a porta necessária para o debate: jornalismo x novas tecnologias.

A chegada do jornalista à redação não mudou, a primeira tarefa importante é checar as notícias do dia e tudo o que pode interferir em seu trabalho, fosse através de fontes por telefone em 1990 ou agora pela internet, onde em dois cliques somos capazes de encontrar tudo. Os materiais de apoio também não evoluíram muito: são telefone, livros e canetas para anotar os pontos mais urgentes. Quando perguntamos ao entrevistado nascido em 1992 qual a maior diferença entre as redações analisadas, a resposta é simples: “está na velocidade de circulação da informação que se tornou ainda maior e as plataformas”. Segundo Nilo Vieira, formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero em 2014, “não basta apensa agilidade para fechar o jornal, mas também para garantir o destaque no site”, ou seja, a importância da internet e das novas tecnologias como a utlilização das redes sociais para veículos de comunicação é essencial.

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Para Nilo, as redes sociais “colocam o público no centro da conversa”, deixando o espectador ser o “gerador da notícia”. A prova de que é importante estar presente na internet é o fato de a maioria dos jovens procurar as notícias em páginas do facebook ou perfis do twitter. “É vital estar presente no feed de notícias do leitor. Isso não prejudica o impresso, potencializa”, diz Nilo.

Para Celso Unzelte, formado em 1989 pela FIAM (Faculdades Integragadas Alcântara Machado), a realidade do jornalista sofreu uma mudança brusca com a introdução dos novos meios de comunicação. Hoje é possível cobrir uma manifestação ao vivo através do periscope ou do snapchat quando na década e 90 e começo dos anos 2000 a única saída era estar de corpo presente e depois de horas levar todo o material até a redação para, aí sim, conseguir digitá-lo e, no dia seguinte, colocá-lo à disposição dos leitores. Leitores esses que só eram capazes de interagir com o jornal através de cartas enquanto hoje com apenas um tweet ou um comentário no facebook, as proporções da crítica ou do elogio se tornam gigantes.

A participação das novas tecnologias no jornalismo da segunda década dos anos 2000 é nítida. Os maiores veículos de comunicação fazem uso de redes sociais e contam com uma audiência crescente de seu público, que não somente continua fiel, mas sente-se mais a vontade para participar na notícia.

 

por: Beatriz Salles e Marília Kazmierczak 

Entre mamadeiras e aulas

Por Andressa Oliveira e Isadora Pinheiro

Trabalhar e conciliar a vida em família é complicado para todos os profissionais. Ter filhos é uma decisão importante que muda toda a rotina da casa, são muitas horas se dedicando a criação dos pequenos (ou até mesmo dos grandes). Sem deixar a carreira de lado, alguns professores da Cásper Líbero contam suas experiências como pais, mães e profissionais de comunicação.  

As sombras divertidas de Luís Mauro e seu filho Lucas
As sombras divertidas de Luís Mauro e seu filho Lucas

Conduzir a profissão conforme a gravidez avança é algo que possui diferentes variáveis. Mãe de Theodora, de dois anos, e professora de Legislação e Prática Jurídica nos cursos de Jornalismo e Rádio, TV e Internet, Ester Rizzi conta que a docência e a gravidez puderam coexistir de maneira tranquila. “Como professora senti pouco impacto, já que todo ano a relação se renova com a turma. A minha filha nasceu em julho, coincidindo com as férias do semestre. Então fiquei afastada no semestre seguinte, retornando para aplicar as provas”, explica. “Professor é uma profissão favorável nesse sentido, você não sente perdendo nada. Você só deixa de participar um pouco de uma turma, mas teve um contato no começo do ano”, afirma a advogada.

Depois do nascimento dos filhos, os primeiros cuidados são os mais importantes, em que o bebê precisa de muito amparo dos pais. “Quanto mais os pais estão presentes nos primeiros tempos da infância, melhor vai ser a vida comunitária da criança”, diz o pai de três filhos, cientista político e professor dos cursos de Rádio, TV e Internet, Jornalismo e Relações Públicas, João Alexandre Peschanski. Ele endossa que a assistência de ambos pais é primordial para o crescimento saudável da criança. Enquanto a licença maternidade é de 120 dias na maioria dos casos, os pais ficam apenas cinco dias corridos. Bianca Santana, escritora e professora do curso de Jornalismo, e mãe de três filhos, os amamentou até um ano e meio. A docente desaprova a falta de apoio paterna nos primeiros meses, que são tão complicados. “Não parece, mas quando a criança dorme ali deitadinha em cima de você, aquele minuto que você tem pra fechar o olho numa poltrona, não tem alguém ali ao lado, e você está com sede”.

Dupla jornada

Tatiana e sua filha Lucília (ela ainda é mãe de Francisco)
Tatiana e sua filha Lucília (ela ainda é mãe de Francisco)

Como a rotina é puxada, muitos pais trabalham de casa. Mãe de dois adolescentes e jornalista, Tatiana Ferraz, diz que quando trabalha em casa separa o momento das obrigações e que cada um precisa respeitar o espaço do outro. “Ele vai se descobrir como pessoa. Criança não é criança para sempre, e isso eles têm necessidade de aprender”. A professora ainda acrescenta que colocá-los na escolinha foi muito positivo para a sociabilidade dos filhos, “hoje eles são super fortes, muito sociáveis, se viram sozinhos”. Luís Mauro Sá Martino, pai de Lucas, confidencia que o garotinho de quatro anos sempre o acompanhou no trabalho em casa. “Nos primeiros meses, como eu passava 24 horas ligado, acabava trabalhando de madrugada com ele no colo. Assim, acabei descobrindo que o movimento de digitação de um texto embala o bebê. Várias vezes ele dormiu enquanto eu fazia este processo”, conta. O professor de Comunicação Comparada no curso de Jornalismo é bastante famoso não apenas por suas animadas aulas, mas também pelos divertidos textos em que conta suas histórias e peripécias com o filho, publicadas em suas redes sociais.

Horários adaptados

Filhos demandam tempo, o que exige uma grande adaptação. A flexibilidade no trabalho de professor, quando se lida com a paternidade ou a maternidade, é uma das maiores vantagens. “É bem flexível, mas bastante corrido. Como somos horistas, conseguimos organizar nossas horas pra também ficar em casa com as crianças”, explica Bianca. Quando os horários apertam, porém, os professores recorrem a terceiros, como qualquer outra profissão. “Precisei substituir uma colega de Relações Públicas, há poucos dias. Então, eu e minha esposa apelamos para o famoso Centro de Formação Anarquista, mais conhecido como os avós”, brinca Luís Mauro. “É necessário acionar uma rede mais ampla de contatos para podermos trabalhar enquanto as crianças ficam com alguém”, completa Bianca.

O professor Luís Mauro ainda comenta que a seriedade do seu papel de pai se equipara ao do seu trabalho, já que “a paternidade não é uma ajuda, ela é parte integrante de algo muito maior.” Apesar de ter uma rotina puxada, todos os papais e mamães gostam muito dessa segunda profissão integral que se concilia com sua vida docente.

Educação Digital

Por Fernanda Cecon – 3JOA

A representação da palavra educação ou escola costuma ser sempre a mesma: um livro e um lápis. Essa combinação de imagens é entendida em qualquer lugar do mundo como um símbolo de conhecimento e aprendizado. No entanto, no mundo cada vez mais tecnológico que vivemos, a situação está começando a mudar. A era de novas tecnologias e o poder do digital já atingiu o comércio em todos os setores e categorias, desde roupas até papelarias, atingiu empresas de aluguel de serviços de limpeza, costura, academias de ginástica que oferecem personal trainer online, e por ai vai. Claramente a educação não se manteria ausente disso por muito tempo. A Cásper Líbero, uma das faculdades mais renomadas do país trabalha para que a integração digital ocorra sem tirar a tradicionalidade do ensino.

No entanto, antes dessa “tendência” estourar no mundo socioeducativo, a educação unida a novas tecnologias não fazia muito sucesso no Brasil. Muitas editoras já produziam conteúdos em versão digital, os e-books. Mas era raro ver alguma pessoa comprando livros digitais ao invés de obras impressas. Apesar de hoje em dia já ter se tornado algo um pouco mais comum, ainda assim não se compara ao sucesso atingido por essas plataformas em outros países. Nas escolas e faculdades também não era diferente, os livros continuavam no mesmo padrão tradicional. 

O cenário começou a mudar notavelmente apenas no ano passado, quando algumas instituições de ensino começaram a fazer o processo de integração de novas tecnologias no ambiente escolar e a implementar o uso de tablets e materiais digitais, substituindo por base os antigos livros. Isso ocorreu, principalmente, porque em ano passado o Ministério da Educação abriu uma licitação que exige livos digitais em ambientes escolares. Alguns lugares substituíram o impresso totalmente, outros foram menos radicais e utilizam a tecnologia somente como um complemento. E assim, a discussão começou a ganhar espaço e importância no território brasileiro. Nesse meio, começou a surgir a dúvida, seria a imersão em tecnologias no ambiente socioeducativo uma boa escolha afinal?

Nem todos os professores são adeptos ao uso de complementos digitais, mas, na Cásper Líbero, a maioria deles a utiliza como aliada no dia a dia. Lá o tecnológico contribui de diversas maneiras diferentes em cada disciplina, mas independente disso, nunca deia de aparecer. Seja para checar a originalidade de textos e trabalhos dos alunos, fazendo uma verificação online e digital de plágios, até para disponibilizar conteúdos da aula e textos complementares por blogs e redes sociais, a integração ocorre de forma leve e intuitiva. Muitas vezes, a melhor forma de se comunicar com os professores é através desses meios digitais. Jorge Tarquini, professor de Administração de Produtos Editoriais na faculdade, é um dos que usa com frequência e em grande peso a educação digital. Em entrevista, ele afirma que o retorno é sempre positivo.

E as faculdades não são as únicas integradas as novas tecnologias. O Colégio Salesiano Santa Teresinha, localizado na zona norte de São Paulo, também seguia a linha tradicional, porém decidiu se juntar aos que experimentavam a novidade, exigindo tablets como material escolar obrigatório, instruindo professores ao seu uso e, assim, se tornando uma das raras escolas que entraram completamente na era digital. Lá, os alunos baixam os livros através de um aplicativo indicado pelos professores, além de outros complementares que ajudam as aulas. Os livros em sua versão digital são mais intuitivos do que no impresso e, assim, conseguem prender a atenção dos alunos sem perder a forma didática.

 Os tablets funcionam como grande apoio teórico disso tudo. A combinação de todos esses pontos resulta em um ambiente educativo muito mais agradável e interessante para os alunos e professores. Mesmo com os benefícios, alguns pais não concordam com a substituição de livros impressos. “No mundo de hoje, com internet liberada e equipamentos digitais, a distração acontece em um minuto. O acesso a redes sociais que não tem relação com a aula também é bem mais fácil. Acho que isso pode mais atrapalhar do que ajudar. Na prática as coisas nem sempre saem como prometidas, entende?”, conta Fabiola Giovanetti, mãe de uma das alunas.

Todavia, mesmo com a desaprovação de alguns pais, a resposta dos alunos não deixa dúvidas: “Eu adorei! É muito melhor para ler as lições, acho a aula bem mais divertida. Antigamente com os livros, ninguém prestava tanta atenção, era chato e cansativo, eu acho”, diz Fabiana Giovanetti, aluna do colégio desde seus 4 anos de idade. O fato é, seja em escolas ou faculdades, as novas tecnologias conseguiram conquistar definitivamente seu espaço na educação, utilizando de a rapidez de seus recursos para melhorar o ensino  e o interesse dos alunos no principal: estudar.

Empoderamento de minorias no Brasil

Apesar das especificidades, a luta LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), negra e feminista é semelhante a nível mundial. Com níveis variados de reconhecimento e respeito em cada país, estes grupos lutam diariamente por seu empoderamento e observam pequenas, porém importantes, conquistas conforme se posicionam contra a descriminação e desigualdade.

O tema centrou o debate sobre Protagonismo, Empoderamento e Lugares de Fala, na Semana de Cultura Geral da Faculdade Cásper Líbero, no dia 12 de maio. A mesa, composta por convidados militantes, discutiu o contexto histórico de certos tipos de opressão e como combater para eventualmente sair desse sistema.

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“O sistema gera pessoas pra reproduzirem e manterem o sistema, precisamos pensar estratégias para conter essa reprodução, intervir nessa reprodução para que o oprimido perceba a situação em que se encontra”, explicou Amara Moira, prostituta transgênero autora do blog “E se eu fosse puta”.

“Se a própria pessoa que está vivendo a situação de opressão, violência e exploração pudesse perceber a situação na qual se encontra, os movimentos sociais não teriam essa importância que assumem porque a própria pessoa poderia começar, a partir de si, uma revolta contra essa situação e isso iria desencadear uma mudança radical na sociedade”, defendeu ela.

Para tanto, porém, é necessário, primeiro, conscientizar o indivíduo da violência que sofre para depois empoderá-lo.

“A gente não pode simplesmente chegar por exemplo para uma travesti ali na rua, dar um microfone para ela e dizer: ‘fala’. O que isso gera? (…) Ninguém dá ouvidos para aquilo. Ela própria talvez nem perceba a situação em que ela esteja sendo colocada”, afirmou Moira.

O empoderamento, segundo os palestrantes, provoca uma contestação do oprimido sobre sua própria opressão e lhe oferece mecanismos para combatê-lo. Os coletivos e movimentos sociais num geral, são um tipo de instrumento que combate os preconceitos e estereótipos que menosprezam as minorias sociais.

“A união das minorias é um tema muito complexo porque nós também reproduzimos muito preconceito entre nós. O movimento LGBT também é muito racista, o movimento negro também é homofóbico e transfóbico, é complicado”, alertou Elvis Justino, da Família Stronger, ao ser sugerida uma possível união entre os grupos oprimidos para combater a descriminação.

É importante citar conquistas recentes destes grupos, como a nomeação da filósofa Djamila Ribeiro como secretária-adjunta de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo. Também é o caso de Eliane Dias, que palestrou na Faculdade Cásper Líbero, é mulher, negra, militante, produtora musical do Racionais MC, “uma banda de resistência”, e coordenadora do SOS racismo, na Assembleia Legislativa de São Paulo — experiência que ela define como “extremamente dolorosa”

Entretanto é preciso, também, ressaltar os retrocessos que estes grupos estão prestes a enfrentar com o novo governo interino do vice-presidente Michel Temer, como a extinção do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, e os inúmeros casos de agressão e repressão contra membros destes respectivos grupos, muitos deles realizados por agentes do Estado.

“O governo que está assumindo quer mulheres ‘belas, recatadas e do lar’, desde que esta mulher seja dele, porque eu não vejo a possibilidade de uma mulher de uma mulher da periferia manter essas características”.

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E o empoderamento LGBT internacionalmente?

As Filipinas são um dos países onde a comunidade LGBT (e feminista) tem menos direitos e, portanto, é menos empoderada. A nação proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o divórcio e o aborto; também impede que pessoas transgênero façam a cirurgia de redesignação sexual e mudem seu nome de batismo para o nome social no registro oficial filipino.

Entretanto, nas últimas eleições gerais, que ocorreram no dia 9 de maio, a população do arquipélago elegeu sua primeira parlamentar transgênero, Geraldine Roman, que se tornou o primeiro membro da comunidade LGBT a participar do Congresso Nacional.

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Geraldine Roman se tornou primeira representante LGBT do Congresso filipino (Reprodução/Facebook)

Durante sua campanha, Roman havia prometido combater a discriminação contra pessoas transgênero e o resto da comunidade LGBT. Ao ser eleita, a parlamentar comemorou a vitória do “amor, aceitação e respeito”.

Entretanto, para conseguir seu cargo, Roman não se candidatou pelo partido LGBT das Filipinas, mas pelo partido Liberal — o mesmo do ex-presidente Benigno Aquino. Ela também contou com um eleitorado fiel, conquistado por seus pais em anos anteriores — ex-parlamentares que realizaram uma série de políticas sociais —, que deram seu voto confiando que a parlamentar dará continuidade a essas iniciativas.

Entretanto, não é apenas em países asiáticos e menos desenvolvidos que existem graves situações de LGBTfobia, intolerância e discriminação. No estado da Carolina do Norte, nos EUA — considerado desenvolvido —, foi aprovada no dia 24 de março uma legislação que proíbe os cidadãos de usarem banheiros públicos que não sejam aqueles marcados especificamente para o gênero com o qual nasceram.

Isto significa que pessoas transgênero não podem usar o banheiro indicado para o gênero com o qual se identificam, mas devem usar aquele marcado com seu gênero biológico. Ou seja, uma mulher transgênero deverá usar o banheiro masculino e um homem transgênero, o feminino.

A medida provocou revolta entre a comunidade LGBT, cujo protesto recebeu o apoio de artistas e outras celebridades. A banda Pearl Jam e o ex-baterista dos Beatles, Ringo Starr, por exemplo, cancelaram seus shows no estado em oposição à nova legislação.

A comunidade LGBT norte-americana, contudo, viveu um importante conquista nesta semana. O Senado confirmou na terça-feira, 17, a nomeação de Eric Fanning para a Secretaria do Exército, instituição fortemente conservadora. Será a primeira vez que um oficial assumidamente gay comandará uma das Forças Armadas do país.

E o empoderamento negro internacionalmente?

Ultimamente, os países que vêm vivendo os casos mais graves e emblemáticos de racismo são aqueles considerados desenvolvidos, como EUA e nações europeias.

Nos EUA, em situação não muito diferente da brasileira, os negros, principalmente jovens, são assassinados diariamente pela polícia. A situação vem se agravando desde 2013 e atingiu seu ponto mais crítico no final de 2014 e início de 2015, quando os jovens Michael Brown e Freddie Gray foram mortos pela polícia.

Segundo uma pesquisa de 2015 do site Mapping Police Violence, pelo menos 102 pessoas negras desarmadas foram mortas pela polícia, o equivalente a quase dois assassinatos por semana. O estudo, no entanto, estima que esse número seja maior, mas não teve acesso a mais dados para comprovar a hipótese.

Dessa violência surgiu, em 2013, o grupo Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em tradução livre) e outros movimentos sociais que combatem o racismo. O grupo geralmente está à frente das manifestações contra a ação e impunidade policial e alguns de seus líderes já foram chamados pelo presidente dos EUA, Barack Obama, a ir à Casa Branca.

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DeRay Mckesson, um dos líderes do grupo Black Lives Matter, em protesto contra a morte do jovem negro Michael Brown (Reprodução/Facebook)

Na Europa, diversos países possuem grupos e até partidos políticos abertamente neonazistas e, portanto, racistas. Na Suécia, ocorreu no dia 1o de maio uma manifestação neonazista que reuniu cerca de 300 pessoas.

Diante disso, Tess Asplund, uma mulher negra de 42 anos e empoderada, se colocou em frente à marcha com o punho erguido — símbolo tradicional de solidariedade e luta do grupo negro da década de 1960, Panteras Negras. À imprensa, Asplund disse ter agido por impulso, mas afirmou esperar que “algo de positivo saia da foto” que tiraram dela e que rodou o mundo.

“Talvez o que eu fiz possa ser um símbolo de que podemos fazer algo — se uma pessoa pode, todos podem”, reforçou.

E o empoderamento de mulheres internacionalmente?

A Índia é considerada um dos países mais perigosos do mundo para mulheres. Sendo considerada a nação mais perigosa do mundo para turistas mulheres, de acordo com um levantamento de 2016 do  International Women’s Travel Center.

Apesar dos constantemente altos índices de feminicídio, estupro e outros tipos de violência contra mulheres, principalmente contra aquelas das castas mais baixas (sistema de organização social indiano que hierarquiza a população em diferentes classes, as castas), as mulheres vêm se empoderando e passaram a protestar contra a violência que sofrem.

Em dezembro de 2012, uma jovem da capital de Nova Déli sofreu estupro coletivo em um ônibus e foi violentada de diversas outras formas. Ela acabou morrendo 15 dias depois. O caso só se tornou público em 2013, quando os detalhes da investigação foram divulgados pela mídia.

A população feminina, então, foi às ruas em protesto, levando à agenda do governo assuntos que antes não eram considerados importantes. No mesmo ano conseguiram que fosse aprovada uma emenda que expande a noção de estupro para situações que vão além do sexo não consensual.

Em 28 de abril deste ano ocorreu um assassinato similar. Uma jovem Dalit (casta mais baixa do sistema social indiano) chamada Jisha foi esfaqueada, estuprada, torturada e eventualmente morta no estado de Kerala. Dias depois, em 5 de maio, uma estudante de enfermagem também Dalit sofreu um estupro coletivo no mesmo estado de Kerala.

Os dois casos deram origem a uma campanha internacional em defesa das mulheres indianas. Diversos protestos vêm acontecendo nos distritos de Kerala onde ocorreram os crimes. Com a participação de homens e mulheres, as manifestações estão sendo reprimidas pela polícia. O próprio primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, criticou a ação do governo do estado que, segundo ele, não está fazendo o suficiente.

Na Argentina, uma jovem chamada Belén foi condenada a oito anos de prisão por homicídio no dia 19 de abril por ter sofrido um aborto espontâneo — considerado proposital pelas autoridades — em 2014. Ela está presa desde então.

Como consequência, movimentos feministas passaram a realizar protestos pedindo a liberdade de Belén, repudiando os maus tratos que ela sofreu enquanto estava no hospital onde chegou com uma forte hemorragia vaginal decorrente do aborto, e pedindo a “descriminalização e legalização do direito de aborto na Argentina”. No país sul-americano, só é permitida a interrupção legal de uma gravidez de risco para a mulher ou quando esta gravidez é resultante de violência sexual.

De acordo com a Anistia Internacional na Argentina, o aborto inseguro é a primeira causa individual de morte materna em 17 das 24 províncias da nação. Estima-se que mais de 60 mil mulheres são internadas em hospitais públicos por causa de abortos inseguros.

Apesar dos constantes protestos, o presidente do país, Mauricio Macri, se recusa a debater sobre o tema. Mesmo quando era prefeito da capital, Buenos Aires, ele já se mostrava contra a descriminalização do aborto com o argumento de que era “a favor da vida”.

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Cartaz chamando população a protesto contra prisão de Belén (Reprodução/Aborto Legal)

Idas e vindas: intercâmbio, vale a pena?

Por Julia Moraes da Costa

Com a competitividade no mercado de trabalho aumentando cada vez mais, alguns detalhes no currículo podem contar como um grande diferencial na hora de ser contratado. Entre eles, o intercâmbio. Embora a maioria da população brasileira não possa bancar uma experiência internacional extensa, uma pesquisa feita pela Belta – Associação de Agências de Intercâmbio (Brazilian Educational & Language Travel Association) com 135 respondentes conta que destes, 42% já estudaram fora e 58% planejam fazer um intercâmbio. Ainda mais do que ser um aditivo para a entrada no mundo profissional, o intercâmbio também pode fazer parte do crescimento pessoal de cada um.

O principal argumento usado para justificar a experiência é conhecer novas culturas. E novas culturas os intercambistas conhecem. Segundo o Australian Bureau of Statistics, 26,8% da população da Austrália, um dos principais destinos, é estrangeira. E foi pra lá que foi Mariana Oliveira, 20, agora estudante de Relações Públicas do Centro Universitário Belas Artes. No seu caso, o objetivo foi terminar o ensino médio na land down under: “Eu estava um pouco desmotivada e queria praticar meu inglês enquanto vivia outra cultura”. Ela ficou lá por um ano e meio, mas diz que ainda tem conexões com pessoas do outro lado do mundo. Diferente do caso de Mariana, que viajou com apenas 17 anos, a maioria dos intercambistas está entre a faixa de 22 e 25 anos.

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Mariana Oliveira fez high school na Austrália (Foto: Instagram)

Não é difícil de observar que a língua nativa mais procurada é sem dúvidas o inglês. Heloísa Meleras, ex-professora da escola Wizard, acredita que o melhor momento para fazer o intercâmbio não depende do nível de conhecimento da língua, mas sim quando a pessoa se sente mais preparada: “Conheço pessoas que foram com 16 e sentiram que for a melhor experiência da vida”. Apesar disso, adverte, “o conhecimento da língua ajuda muito sim na desenvoltura.. [mas] se for extrovertido aprende na marra.”. Heloísa comenta ainda sobre sua experiência pessoal, em que foi para a Holanda “sem saber nada de holandês e consegui voltar fluente; meu inglês também teve melhoria significante”.

Apesar da crise econômica que o Brasil enfrenta muitos não querem abrir mão da viagem. A solução é achar destinos mais baratos, com uma moeda mais em conta. Algumas agências como a CI oferecem um simulador online, que mostra o destino ideal a partir dos melhores preços de passagem, hospedagem e transporte a partir do idioma e o período de estadia escolhido. Um deles é o Canadá, que lidera o ranking de destinos mais procurados pelos brasileiros, mais até que os Estados Unidos. A pesquisa feita pela Belta mostra ainda que a escolha pode ser afetada pelo processo de obtenção de visto e benefícios que o estudante estrangeiro tem. Países como o próprio Canadá, Austrália, Irlanda e Reino Unido permitem que o intercambista trabalhe até 20 horas semanais com um visto de estudante, e por isso são destinos preferidos.

 

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Débora, ao meio, escolheu a Inglaterra como seu destino (Foto: Instagram)

Débora Terron, 20, fez um intercâmbio cultural e morou na Inglaterra durante seis meses: “Desde o início, minha preferência foi a Inglaterra porque queria ter experiência com a cultura inglesa. Por isso escolhi Oxford, uma cidade universitária, pequena e perto de Londres.”. A estudante conta que a viagem teve vários impactos positivos na sua vida, não só como ter a mente mais aberta, mas a fez também perder a timidez ao falar com as pessoas, por exemplo.

Uma opção diferente é a da agência Student Travel Bureau, a STB, que oferece aos universitários de 18 a 25 anos, com exclusividade, a chance de trabalharem nos parques temáticos da Walt Disney World® Resort, em Orlando, e na Disneyland®, em Anenheim, através do Cultural Exchange Program. O trabalho é remunerado e alguns benefícios como descontos em todos os produtos da marca Disney® e acesso livre a todos os parques, com extensão a familiares, fazem do programa um grande atrativo para aqueles que buscam experiência profissional no exterior e já possuem um nível de inglês um pouco mais avançado.

Com o aumento de procura por intercâmbio no mercado, são agora inúmeras agências disponíveis que oferecem várias oportunidades diferentes, com ainda mais ingressando no negócio, como a CVC, que anteriormente oferecia apenas pacotes de viagem. Entre elas, os cursos de idiomas, os de estudo e trabalho combinados, high school, cursos profissionalizantes, intercâmbios direcionados especificamente ao público adolescente, trabalhos voluntários em países da África e da Ásia e Au Pair, o intercâmbio em que jovens são contratadas por famílias como babás, nos Estados Unidos e na Europa, principalmente Alguns intercambistas, como modo de passar o tempo ou em busca de divulgação, criam blogs e fazem vlogs que divulgam seu dia-a-dia internacional. Um deles é “O Blog das 30 Au Pairs”, criado em 2010, que conta com posts diários de 30 colaboradoras espalhadas pelo mundo com a missão de cuidar, em alguns casos, de até 5 crianças, enquanto vivem fora de seu país. O Au Pair é oferecido pela maioria das agências de intercâmbio.

São, portanto, várias opções, com duração a partir de duas semanas até mais de um ano. Tudo depende do objetivo da pessoa e de quanto tem disponível para este tipo de investimento. O que não se pode negar é que o intercâmbio, mais do que um adendo no histórico profissional, pode ser a viagem da sua vida.

Cásper inclusiva: ambiente para alunos com deficiência

Por Giuliana Saringer e Juliana Santos, 3º JO A

Aconteceu no dia 16 de maio, na sala Aloysio Biondi da Faculdade Cásper Líbero, a palestra sobre direitos das pessoas com deficiência no Brasil. Ministrada pela professora Liliane Garcez, o encontro levantou questões como a importância de uma educação inclusiva para os estudantes com impedimentos no ambiente acadêmico. Garcez é  Doutoranda na Faculdade de EducaçãoWordItOut-word-cloud-1691108 da Universidade de São Paulo (USP), mestre na mesma faculdade e trata de temas como práticas inclusivas, diversidade em sala de aula e construção coletiva do conceito de inclusão. As falas da especialista trouxeram à tona um tema relevante dentro da Faculdade Cásper Líbero: qual o sentimento dos alunos com deficiência em relação a esse ambiente?

Marina Yonashiro, estudante do terceiro ano de jornalismo e pessoa com deficiência visual, conta que se sentiu acolhida pela instituição a partir do momento do vestibular, seu primeiro contato com a faculdade, e, desde então, sentiu que seria uma convivência agradável. A coordenação de vestibular ficou um pouco perdida no início, mas deu à Marina a oportunidade de fazer a prova em um computador, um ganho enorme, já que na Fuvest e no ENEM, tidos como referência para inclusão de pessoas com esse tipo de impedimento, não há essa possibilidade. Além disso, um funcionário ficou responsável por acompanhar Marina durante a prova.

Depois da ótima primeira impressão, algumas questões foram decepcionantes e outras, surpreendentes. Dentre os professores, alguns demonstram muita boa vontade e procuram ajudá-la no que é possível, enquanto outros, talvez por falta de informação, deixam de lado a história de Marina e pensam nela simplesmente como alguém que não enxerga, segunda relatou. “Houve professores muito abertos e dispostos a aprender comigo e a aprender a me ensinar”, explicou. Já no primeiro ano, o então coordenador do curso de Jornalismo, professor Carlos Costa, enviou um e-mail ao corpo docente frisando a necessidade de um cuidado e atenção com a estudante. Ela prefere lembrar os professores uma semana antes das provas para que tragam sua prova em um pen-drive. Apesar da insistência, Marina garante que não há grandes barreiras na hora de fazer trabalhos, provas e demais atividades propostas em sala.

Apesar do cuidado por parte dos docentes, Marina se vê deixada de lado pelos colegas. No trajeto da estação de metrô ao prédio da faculdade, cerca de duas quadras e meia, Marina necessita de ajuda para atravessar a rua, e não sente que os alunos a apoiam. “Sinto um ambiente hostil, a Cásper está formando comunicadores que não me enxergam”, contou. A educação inclusiva abrange uma série de componentes, desde a infraestrutura do local de estudo, que não deve ter nenhuma barreira para o estudante com deficiente, até o transporta até esse lugar, por exemplo. Assim sendo, a questão colocada por Marina envolve o conceito.

Segundo a Cartilha de Educação Inclusiva produzida pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, a escola inclusiva é aquela na qual o aluno é “sujeito de direito e foco central de toda ação educacional”: há de se garantir sua caminhada no processo de aprendizagem e de construção das competências necessárias para o exercício pleno da cidadania. A escola inclusiva conhece cada aluno, respeita suas potencialidades e necessidades e a elas responde, com qualidade pedagógica.

Ainda segundo esse documento, assegurar a todos um bom atendimento, desde o aprendizado até a ida à escola, é uma forma de incluir. Não fazê-lo, pelo contrário, é uma atitude discriminatória, que perpetua a marginalização dessas pessoas. Cada estudante torna-se um cidadão e ator social, por isso desmistificar o preconceito desde a escola é um passo importante para educar a sociedade acerca das questões das pessoas com deficiência.

A coordenadora de cultura geral da instituição, professora Sonia Castino, frisa que a Fundação Cásper Líbero preza pela necessidade de conviver com o diferente para aprender e crescer. Para ela, mais do que uma lei ou obrigatoriedade de receber pessoas com deficiência no ambiente acadêmico, trata-se de uma filosofia casperiana. “Observo na Fundação uma postura de acolhimento. Temos funcionários com deficiências, seja na faculdade, seja na rádio, então existe uma preocupação que vai além do que é obrigatório”, disse. Ela nota que foi a partir da convivência que a marginalização das pessoas com deficiência foi reduzida dentro da instituição.

Para ela, entretanto, não basta a boa vontade e os braços abertos para lidar com essa questão. Mais do que a lógica de tentativa e erro, é necessário que haja um respaldo profissional para que os professores e funcionários aprendam a lidar com alunos e colegas que tenham deficiências. Castino relatou que há uma demanda por parte do grupo docente para que haja uma equipe especializada em psicopedagogia para auxiliar e orientá-los nesse aprendizado.

A estudante Marina Yonashiro afirmou que acha que a faculdade está aberta às mudanças propostas pelos estudantes com deficiências (sejam visuais, motoras, mentais ou auditivas), mas as demandas desse público precedem as transformações, ou seja, eles cobram para que as coisas aconteçam, mas a partir das cobranças elas verdadeiramente se modificam.

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