Construindo uma nova moda: slow fashion vs. fast fashion

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Você sabe como são feitos os produtos que você usa? Você sabe do que é feito aquilo que você consome? Essas duas perguntas vêm modificando na última década o padrão de consumo ao redor do mundo, e, no mercado fashion, já promoveram mudanças consideráveis.

O modelo tradicional de produção e consumo mais conhecido como fast fashion está sendo paulatinamente reconsiderado pelo slow fashion.

Mas o que é slow e fast fashion?

Fast fashion são os produtos de moda feitos em grande escala, sejam estes roupas, acessórios ou sapatos. Por serem produzidos em massa, os itens fast demandam uma grande quantidade de mão de obra barata, sendo que muitas das marcas de fast fashion estão associadas a escândalos de uso de trabalho análogo ao escravo.

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Mercado de fast fashion é muito forte no Brasil (Foto: Bruna Baddini)

A moda fast fashion é, portanto, mais acessível, justamente por fazer uso de mão de obra barata e não utilizar produtos de alta qualidade.

Já os slow fashion são os produtos feitos em pequena escala, em geral por marcas de pequeno e médio porte que contam com poucas — ou nenhuma — lojas físicas. Isto permite que os produtos sejam feitos de maneira mais personalizada, valorizando o trabalho e a produção como um todo, e utilizando materiais de melhor qualidade, visando uma cadeia produtiva sustentável e embasada por uma ética ambiental, social e econômica.

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Materiais utilizados pela marca de slow fashion Guarda Mundo (Foto: Rafael Serra)

Desta maneira, os produtos slow tendem a ser mais caros e, por isso, menos acessíveis.

É como explica Ana Satti, a joalheira e fundadora da marca de joias Ana Satti, que surgiu em novembro de 2015. “Você entra em uma loja de fast fashion e compra roupas da ‘modinha’, pelas quais vai pagar baratinho, lavar uma vez e acabou. O que eu penso é em uma coisa que vai durar para sempre. Penso num trabalho feito a mão, não tem nada de maquinário, é feito um por um. É gente fazendo. E é uma coisa para sempre”.

Enquanto consumidora, Satti afirma valer mais a pena pagar um pouco mais caro e investir em algo que vá durar anos, “que eu vou poder passar para minha filha ou minha neta”, do que investir numa coisa que acabe logo.

A durabilidade dos produtos é uma das características da moda slow, resultado dos materiais de boa qualidade e a produção em pequena escala dos itens — que acabam por encarecer os preços.

“Acho que quando você pensa em slow fashion, você pensa em algo que você realmente quer. Então claro que os produtos são um pouco mais caros, mas são para que as clientes tirem proveito disso. Quando você tem um colar que gosta muito, é triste quando ele estraga”, explicou a fundadora da marca de bolsas personalizadas Guarda Mundo, Nicole Malo, surgida em 2011.

Construir uma nova moda

A slow fashion, vinda com toda uma tendência de consumo e modo de vida slow, foi possibilitado, segundo Milena Oliveira Sasdelli, consultora de brands e especializada em marketing da moda, pela existência de mecanismos e informações que possibilitam ao consumidor “fazer com que sua vontade pessoal interaja com o meio, sem degradar seu entorno”.

Ela explica que em países como Alemanha e Inglaterra, o mercado slow já está consolidado, que já existem lugares em que as pessoas têm outra relação com os produtos que consomem, o que, de acordo com Malo, tem a ver com “autoconhecimento, autovalor e se encontrar cada vez mais para não comprar adoidado sem saber exatamente o que se quer de fato comprar”.

No Brasil, o protagonismo financeiro do cenário de moda ainda está refém das grandes corporações como ZARA, Forever 21, C&A, entre outras, que pautam o consumo dos brasileiros e brasileiras. Porém, o surgimento de inúmeras marcas slow vem apresentando uma nova tendência de mercado e consumo, e se manifestando nos principais eventos do ramo, tais como SPFW, Casa de Criadores e Em Fio.

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O panorama das marcas slow fashion, por outro lado, ainda é muito disperso e associado a empresas de pequeno e médio porte com poucas ou até mesmo nenhuma loja física. Nos últimos três anos, porém, o crescimento médio dessas empresas em comparação com as fast fashion foi 4% maior.

Apesar dos números, tanto Satti quanto Malo dizem não ser fácil entrar no mercado tão consolidado da moda fast fashion com uma proposta diferente do que os consumidores e consumidoras estão acostumados.

Segundo Malo, não adianta “só ter um diferencial”. “A gente tem que ensinar as pessoas a consumir e isso é muito difícil. Acho que a mulher brasileira não se olha muito, ainda não pensa no que quer. Tem que vir outro e dizer: ‘isso é legal, pode comprar’”.

Analisando o cenário, Sasdelli não enxerga, apesar do crescimento do slow fashion, uma eventual extinção da fast fashion ou mesmo uma atrofia desse mercado por causa do poder e tamanho dessas grandes corporações fashion.

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“Acredito que paulatinamente o poder financeiro das grandes corporações será esvaziado pelos novos padrões de consumo — ainda que não dê para prever quando isso vai acontecer”, afirmou.

No entanto, como ela mesma pontua, isto não significaria uma mudança nos valores ou missões das grandes empresas e não eliminaria totalmente seu lucro, visto que sempre haverá pessoas que não estão dispostas, não conhecem ou até não têm condições de pagar pelo slow.

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