“Se você não tem sangue negro ou índio nas veias, deve ter nas mãos.” Essa é a arte política de Rodrigo Ciríaco, que foi aplaudido de pé por todo o auditório da Cásper Líbero.

Com o tema Arte e Política, no primeiro debate noturno da Semana de Cultura Geral. O mediador da mesa, o docente da Alexander Maximilian colocou em pauta a primeira questão: O que o comunicador pode fazer com o tema da invisibilidade?

Dos três convidados presentes, Oswaldo Ramos começou a sua fala: “A mídia vai ser superada, o teatro não. O que é um teatro? Um ser humano com outro ser humano discutindo a sua condição” O falante é diretor de teatro e aponta a força do teatro no âmbito do debate social.

A atriz Fernanda Azevedo, outra palestrante, completa a ideia de Oswaldo Ramos: “A arte deve responder ao perigo de uma época, pois segundo Augusto Boal, O teatro não é em si uma revolução, mas um ensaio”. Ainda na relação da arte com a política, Fernanda Azevedo lembra: “Uma reunião como essa é uma conquista, das pessoas que vieram antes” Porque na ditadura isso não seria possível. O professor e poeta Rodrigo Ciríaco aponta que a Ditadura não acabou, pois: “É o golpe que acontece na periferia, sem acesso aos direitos. Ditadura da pobreza e da exclusão.

Rodrigo Ciríaco desenvolve várias ações literárias na periferia e através da sua experiência como professor no Ensino público escreveu poesias inspiradas na realidade do cotidiano dos marginalizados. O poeta contemplou aos que estavam presentes com a possibilidade de vê-lo pessoalmente recitando as suas poesias, com um conteúdo forte e cheio de realidade que a população não quer ver. É a arte nos mostrando a realidade. A poesia de Rodrigo Ciríaco ganha força e atitude na sua voz, ele recita de uma maneira performática e as palavras ganham vida.

Rodrigo Ciríaco recitando poesia

https://www.youtube.com/watch?v=q222rr53JQ0

“Para mim isso é arte, para mim isso é política” o poeta completa com essa frase, ao terminar de articular a sua poesia, afinal, segundo ele usou a sua frustração para escrever. Além de afirmar que tem depressão, ”A minha depressão é política, fico doente pelo o que acontece”

Rodrigo Ciríaco conheceu o sarau num boteco, na periferia. Lá, ele diz que as pessoas falavam errado e bebiam cerveja, mas conheciam a arte. A arte com as palavras, que é o sarau. Foi assim que ele transformou a sua experiência como professor do Estado em arte, num livro de poesias, da qual ele recitou uma delas, Miolo mole frito.

Rodrigo Ciríaco recitando a poesia: Miolo mole Frito

 

 

Perguntas

Após cada um dos convidados se posicionar sobre o tema abordado, começou as perguntas da plateia. Fernanda Azevedo respondeu; “tomar partido é um ato corajoso, é se posicionar”. Quando questionada se os artistas deveriam expor suas posições partidárias, principalmente em um cenário político atual. A atriz completa a responda explicando que a diferença entre partidarismo e política. Sendo o partidarismo uma única forma de fazer política e o ato de política é muito maior, é uma ação que está em todos os lugares, de diversas formas.

A Lei Rouanet foi outro tema abordado pelas perguntas, o posicionamento de todos sobre tal questão: “O financiamento público é um direito. O artista não se vendeu. A arte que a gente faz não é privada é feita para o povo”. Em relação ao financiamento do Estado nos projetos literários nas periferias que Rodrigo Ciríaco atua, ele foi crucial: ”depois de cinco anos sem financiamento público, foi ficando feio para os governantes”. Só após cinco anos de projeto, que o governo começou a ajudar financeiramente.

Foi efetuada a exibição do documentário “Identidade cotidiana” dirigido por Ana Lucchese, formada na Cásper líbero e uma das convidadas da mesa.

Após a exibição a diretora conta que o filme nasceu de uma crise de identidade. Depois de ter morado em Barcelona e ter voltado para São Paulo ela um sentimento duplo no cotidiano da vida urbana. Um sentimento que atrai e repele. Em Barcelona ela via a questão política no cotidiano, do qual possui um intercâmbio maior de classes, diferente do Brasil. Segundo a diretora, “todos os personagens do documentário estão dentro de apartamentos, não existe noção de comunidade, pois eles possuem medo do que desconhecem”. Sendo esta a grande questão a cerca da temática do filme.

Agustina Comas, a personagem do documentário de Ana Lucchese estava presente no debate. O que tornou o ambiente muito engrandecedor, dado que, a Agustina é uma personagem muito importante no filme, e poder vê-la e debater com ela, vai muito além de ser uma experiência como expectador de uma obra.

A plateia voltou a fazer perguntas, desta vez Agustina é questionada sobre a ligação da moda com a questão política. Dado que, ela é estilista de uma marca chamada “Comas” que confecciona roupas femininas a partir de sobras de camisaria masculina. Devido a sua experiência, a estilista responde: “Quando você compra uma coisa, você está votando na forma como aquilo foi confeccionado”. O voto está na sua relação com o consumo, com a sua família, com os seus amigos, com todas as suas ações do cotidiano. A arte de fazer política está nas pequenas ações e escolhas de um indivíduo, está muito além do dia de votação eleitoral.

Deixe um comentário