Do sul da Bahia para as ondas de rádio da Gazeta

A história de um trabalhador brasileiro que não teme desafios para vencer na vida

Por Matheus Lisboa

Quem olha para aquele sorridente sonoplasta na rádio universitária da Faculdade Cásper Líbero não imagina a jornada percorrida para chegar até onde está. Nascido em Santa Luzia no sul da Bahia, Agnoel Santiago de Souza é o quarto filho de uma família com cinco irmãos. Apesar de não ter passado necessidades na infância, desde dos oito anos já ajudava o pai na roça do pequeno sítio da família.

Quando chegou a São Paulo, no ano de 1994, Agnoel logo se deparou com uma realidade diferente. O seu primeiro grau incompleto parecia ser um obstáculo aqui na metrópole: “Eu vim despreparado, o que eu fazia na Bahia nem era considerado uma profissão, acabei ficando nove meses parado, morando em Guarulhos com o auxílio dos meus irmãos que já trabalhavam em São Paulo. Esse tempo foi muito desanimador, eu chorava frequentemente pela limitação de não poder fazer nada, não ter dinheiro.”

Enquanto pensava em voltar após nove meses de aparente insucesso em São Paulo, a primeira chance apareceu. Um emprego noturno em uma tecelagem, trabalhando como bordador. Passado um período de experiência, ele aprendeu a programar a máquina de bordado e foi promovido ao cargo de supervisor. Mesmo com o salário que já ajudava se manter, ele decidiu pedir as contas e aproveitar outra oportunidade que surgiu.

“Um primo meu trabalhava na Rádio América como motorista e me avisou da oportunidade de trabalhar lá nos serviços gerais. Mesmo sendo encarregado na outra empresa, como faxineiro da rádio eu receberia mais e decidi aproveitar essa chance.” Foi em 2001 que Agnoel começou sua jornada na rádio. Foi nesse ano também que ninguém mais o chamaria pelo nome próprio. A sua semelhança com o pugilista Popó, que na época fazia muito sucesso, fez com que todos lhe chamassem a partir dali pelo apelido.

Mesmo trabalhando com serviços gerais, a curiosidade, o auxilio e a disposição dos operadores de mesa de som, fizeram com que Popó aprendesse algumas das técnicas da sonoplastia. Os chefes deles notaram a sua facilidade, mas lembraram necessidade de se terminar os estudos: “Eu entendi que deveria terminar os estudos, então fiz um supletivo de dois anos, e pensei que concluindo fundamental e o médio estaria tudo resolvido. Só que me avisaram que precisava também do certificado de computação e lá fui eu estudar de sábado para concluir também esse curso.”

Apesar de já saber em grande parte as funções de sonoplasta, a Radio América também exigiu que Popó fizesse um curso de radialista e tirasse o DRT, diploma dos profissionais. Mais uma vez teve que se aprimorar para exercer aquilo que queria. “Em 2006 eu consegui pegar meu DRT, foi um grande sacrifício, saia de casa ás cinco e só voltava à meia noite. Eu aprendia a prática na rádio e esse curso me deu o certificado de rádio operador.”

Após um longo período antes de ser efetivado como operador na mesa de som da rádio, em 2008 ele assumiu esse posto. Por alguns trabalhos realizados na parte de gravação e edição, Popó teve contato com muita gente do meio radiofônico, entre elas, Pedro Vaz, hoje gerente da Rádio Gazeta AM. Como precisava complementar a renda trabalhando de tarde, Popó aceitou o convite de Pedro para fazer um teste como sonoplasta. “Mandei meu currículo para a Gazeta, fiz o teste, estava bem concorrido, tinha pelo menos umas dez pessoas. Eu consegui passar e em 2012 acabei ficando nas duas rádios, de manhã na América e a tarde aqui.”

 

“O trabalho aqui foi muito importante para mim. Conheci grandes profissionais, como a apresentadora Rigiane Ritter, que me ajudaram a evoluir. Além disso, convivi com os alunos, trocando experiência e energia. Trabalhei nos programas do período da tarde, programas matinais em algumas oportunidades, jornadas esportivas no fim de semana, foram grandes desafios, mas é minha profissão, tenho que saber enfrentar.”

 

O ano de 2015 chegou para mudar mais uma vez a perspectiva de vida de Popó. Após uma série de mudanças na rádio gazeta, Pedro sugeriu que Popó se atualizasse fazendo o vestibular para Rádio TV. “Seria importante para minha carreira, resolvi tentar. Eu estava há muito tempo fora da escola, estava desatualizado para o estudo dinâmico de hoje. Porém, o trabalho de sonoplasta me permitia ter contato com muita informação e noticia, não estava de mão vazias. Quando eu soube que prestaria o vestibular me dediquei bastante, li os livros e vi os filmes recomendados pela Cásper, dormi pouco nesse período.”

O esforço foi recompensado. Em 2016 Popó viu seu nome na lista de aprovados e se tornou mais um calouro do curso de Rádio TV da faculdade. Hoje ele divide seu tempo entre faculdade de noite e rádio nas manhãs e tardes.

“Prestei o vestibular para me reciclar, almejar algo melhor no futuro, saindo da zona de conforto. Quando passei achei surreal, uma emoção difícil de explicar, pois nunca imaginei que faria faculdade pela minha origem humilde. Estou gostando muito de estudar aqui, aprendo com essa molecada, mesmo com 40 anos”.

Popó foi o segundo filho a fazer faculdade na família e ressalta o quão novo é tudo que está experimentando: “Eu sei toda a parte operacional, mas a parte de produção da rádio é muito interessante de estudar. Eu deixo o pessoal mais novo ficar com a parte do som, para eles pagarem o jeito, eu até auxilio, mas o importante é que eles se aprimorem”. O simples baiano termina dizendo que não tem um sonho especifico para o futuro, apenas quer manter o trabalho que vem fazendo: “Eu quero me formar nessa faculdade, e é claro, ter saúde para trabalhar e sempre dar o melhor de mim, conciliando tudo”.