“Se a grande mídia não nos quer ver, façamos ver”

É possível ver indígenas e imigrantes como cidadãos comuns nas grandes cidades? Dificilmente vamos encontrar na memória a lembrança de algum personagem de protagonismo social que seja índio ou imigrante, é como se eles fossem invisíveis. A segunda mesa do período noturno da Semana de Cultura Geral foi mediada pela docente Sandra Goulart, da qual leciona antropologia na faculdade Cásper Líbero. A mesa colocou em debate as questões citadas, acima.

Grupos marginalizados e excluídos

Marcelo Hayde foi o primeiro convidado que teve o direito de fala, no debate. O palestrante é diretor do Adus – Instituto para reintegração de refugiados. A instituição ensina língua portuguesa e proporciona assistência social, atendeu 1000 pessoas em 2015.“Difícil relação do Brasil e os refugiados, então, o Adus faz uma mediação entre a sociedade brasileira, o refugiado e o empregador”.

Além de trabalhar no Adus, Marcelo Hayde é advogado, portanto, ele dá uma visão dessa área sob a luz do direito, segundo ele: “o refugiado está legalmente no Brasil, a pessoa é solicitante de refúgio”.

Marcelo Hayde completa: “Por definição o refugiado é uma pessoa que sofre perseguição em seu país, seja por sua etnia, raça, religião ou outras questões.” É importante enfatizar que o refugiado não queria sair do país, ele tinha a vida dele estabilizada no seu país de origem e só saiu devido a perseguição.

O Brasil dá refúgio para quem passou por grave problema com os direitos humanos em outros países. Atualmente a legislação brasileira tem 25 mil pedidos de refúgio.

A segunda palestrante a se pronunciar foi a Cristina Castilho, atriz, ela veio para representar o convidado que não pode comparecer, Patrick, uma ator haitiano que estrela a  peça “Cidade Vudu”.

Cristina Castilho começou a sua fala com um questionamento: “Que alteridade é essa? Que outro é esse? Será tão distante?”

O primeiro argumento apresentado para tal temática é o “Estatuto do estrangeiro” de 1980, do qual tem por intuito punir: “Estrangeiros que participam de atos políticos podem ser detidos e expulsos do país”.

É uma maneira de cercear a cidadania política do estrangeiro, caso o imigrante seja pego numa manifestação, a pena vai de um a três anos, ou pode até expulso do país.

Além de não poder ir em manifestações, não é permitido fazer parte de sindicatos, nem órgãos de produção de opinião, como uma TV ou um rádio.

Em contrapartida a esse regime de exclusão por parte do governo, existe a marcha dos imigrantes. Uma manifestação organizada por ONG’S e associações, o maior objetivo dessa marcha é dar direito ao voto, aos que não possuem nacionalidade brasileira, mas são residentes no país.

Além da marcha dos imigrantes, existe a frente das mulheres imigrantes, com a forte luta de: “Fazer se ver, através dos coletivos, da luta e da auto representação” e “Se a grande mídia não nos quer ver, façamos ver”.

Cristina Castilho fecha a sua fala com o desfecho do questionamento proposto no início, sobre que alteridade era essa? De acordo com tal questão a atriz afirma: “Mais do que alteridade, imigrantes somos nós também”. Pois todos somos imigrantes na vida, vivemos numa constante mudança.

Município de São Gabriel da Cachoeira

O antropólogo Salvador coloca em pauta a questão da inserção indígena na sociedade, segundo o estudioso: “Indígenas são colocados pela sociedade como bárbaros, sem lei, fé e civilidade. O pensamento ocidental quer estabilizá-los, e querem que aceitem o caminho do progresso”. “A ideia indígena mistura sociedade e natureza. A natureza como sujeito de direito, um movimento de resistência ao desenvolvimento urbano.”

Danilo Pereira Ramos é pesquisador e militante, o antropólogo atua na luta a favor dos índios no município de São Gabriel da Cachoeira, pois, esse é o local de maior movimentação indígenas e, também, de maior número de suicídios entre os índios. Segundo Danilo Pereira Ramos os suicídios ocorrem por causa da dificuldade na inserção dos índios na sociedade convencional. Afinal, não existe nenhum aparato para que essa inserção ocorra de uma maneira mais harmoniosa.

A índia

Sheylla Cantarelli é advogada, militante dos direitos indígenas e índia do povo Pancará, uma tribo do interior de Pernambuco. Sua voz tinha a vivência do povo que a gente tanto debate, mas não vê. Ela era a representação de um povo que a gente diz ser invisível.

A sua fala era cheia de propriedade e de vivência, ela conta que os indígenas “É um povo que luta com arco e flecha na mão porque sempre teve os direitos cerceados”. Sheylla diz: “Vivem sob o sistema de perseguição, pois desde que os europeus embarcaram no Brasil que eles são perseguidos.” Os índios, os imigrantes, as minorias, vivem em perseguição desde os tempos coloniais, e nada mudou muito na atualidade.

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